Retratos
Temos uma semana de primavera, e paro para lhe escutar. Eu lembro de como é olhar para ti através de lentes. Elas me deram a sensação de estar longe, o que provavelmente é verdade. Quanto a isso, não há o que se julgar porém. Afinal eu nunca me aproximei pois tenho medo do fogo - ainda que o vermelho também corra em minhas veias. Aliás, eu sei que a covardia completa a falta de carne em meus braços e que minha consciência só emerge por conta de suas gravações. Eu observo as fotografias pois não posso observar a realidade. E foi assim que eu aprendi a importância do tempo. E como as fotos não existem. E como se mantém o retrato de um instante, sem medida, do passado. De quando registrei a ti com um jogo de luz e sombra. Com o ajuste da minha exposição, achei que a cor sairia daquele ponto de inflexão. Mas eu não mudo. Assim como um retrato, eu continuo estático, preso em um instante passado. Assim, registrar-lhe-ei como fotos, sorrisos e memória. Pois não há saudade quando tudo é somente sonho. E não há coragem em textos quando se propõe a falar de alguém, e acaba por falar de si mesmo.